O primeiro critério diagnóstico para síndrome dos ovários policísticos (SOP) foi eleborado em  1990 pelo grupo do National Institutes of Health (NIH), e exigia a presença concomitante de hiperandrogenismo clínico/laboratorial e anovulação crônica. Em 2003, o consenso de Rotterdam incluiu a morfologia ovariana no ultrassom como critério, e estabeleceu que a presença de 2 dos 3 critérios seria necessária para confirmação diagnóstica. Em 2006, a Adrogen Excess and PCOS Society (AE-PCOS) propôs a presença obrigatória do hiperandrogenismo clínico ou bioquímico para o o diagnóstico. Todos os critérios requerem a exlcusão de outras patologias que causam quadro clínico-laboratorial semelhante, principalmente hiperplasia adrenal congênita não clássica, hiperprolactinemia e hipo/hipertireoidismo. Os critérios de Rotterdam são os mais utilizados atualmente, sendo os recomendados pelo último guideline da EndoSociety2.

Mais recentemente, foi proposto que, de acordo com os critérios diagnósticos de Rotterdam, seria possível identificar 4 fenótipos de SOP: A: oligo-anovulação + hiperandrogenismo clínico/laboratorial + ovários policísticos; B: oligo-anovulação + hiperandrogenismo clínico/laboratorial; C: hiperandrogenismo clínico/laboratorial + ovários policísticos; D:  oligo-anovulação + ovários policísticos 3.

Uma metanálise sobre SOP publicada na Human Reproduction em 2016 mostrou inconsistência de prevalência entre os estudos. Os fatores que contribuiram para  a grande heterogeneidade de prevalência de SOP entre as regiões estudadas foram: ausência de padronização na definição de hirsutismo pelos critérios de Ferriman e Gallwey , assim como da metodologia e valores laboratoriais usados na aferição dos androgênios;  o fato do diagnóstico ultrassonográfico ser operador dependente e do aprimoramento na visibilidade dos folículos antrais nos últimos anos; e a dificuldade de se aferir objetivamente disfunção ovulatória. Além disso, algumas características fenotípicas, principalmente hiperandrogenismo clínico, são difíceis de quantificar e sofrem influência étnica; como exemplo, há baixa prevalência de hirsutismo em mulheres do leste asiático. 

Devido às dificuldades na padronização da avaliação morfológica ovariana pela ultrassonografia, uma alternativa bioquímica mais objetiva para estimar a quantidade dos folículos antrais, a medição do hormônios anti-Mülleriano, vem sendo estudada4.

A prevalência global de SOP de acordo com os critérios da NIH é de cerca de 6%, enquanto que é em torno de 10% pelos critérios de Rotterdam ou da AE-PCOS Society. 

Na Europa , foi encontrada a menor prevalência de oligo-anovulação, enquanto, na Ásia, hirsutismo e hiperandrogenismo foram incomuns. Esses achados sugerem a importância da adaptação dos critérios diagnósticos e dos alvos terapêuticos de acordo com a região geográfica. 

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um distúrbio complexo e heterogêneo, que apresenta diversos fenótipos, sendo o diagnóstico endocrinológico mais comum em mulheres antes da menopausa. É caracterizada pela presença de anovulação, infertilidade e hiperandrogenismo e está, freqüentemente, associada à obesidade e síndrome metabólica. Fatores ambientais e o tipo de critério diagnóstico usado afetam a taxa de prevalência de SOP de acordo com seus fenótipos.

Referências: 

1. Bozdag Gurkan, Sezcan Mumusoglu, Dila Zengin, Erdem Karabulut, and Bulent Okan Yildiz. The prevalence and phenotypic features of polycistic ovary syndrome: a systematic review and meta-analysis. Human Reproduction. 2016; 31(12):2841-55.

2. Legro RS, Arslanian SA, Ehrmann DA, Hoeger KM, Murad MH, Pasquali R, et al. Diagnosis and treatment of polycystic ovary syndrome: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2013;98(12):4565-92. 

3. Lizneva D, Suturina L, Walker W, Brakta S, Gavrilova-Jordan L, Azziz R. Criteria, prevalence, and phenotypes of polycystic ovary syndrome. Fertil Steril. 2016;106(1):6-15.

4. Teede H; et al. Anti-Müllerian Hormone in PCOS: A Review Informing International Guidelines. Trends in Endocrinology & Metabolism. 2019; 30(7):467-78.

Síndrome dos Ovários Policísticos

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